Rio Perequê-Açu - Paraty
- Vitor Miranda
- 14 de jun. de 2018
- 3 min de leitura
O nome tem origem tupi, porém seu significado é controverso. "Açu", com certeza, significa "grande". Já "perequê" significa "entrada de peixe", através da junção dos termos pirá ("peixe") e iké ("entrar") ou "praia". Portanto, "Perequê-açu" significaria "praia grande" ou "grande entrada de peixe".

O Rio Perequê-Açu já se chamou Paratiguaçu. "Parati" é tanto uma espécie de peixe da família dos mugilídeos quanto uma variedade de mandioca. Açu significa grande, comprido.
O Perequê é o principal rio da região de Paraty, RJ. Tem sua nascente no Parque Nacional da Serra da Bocaina e desemboca no mar, junto ao centro histórico de Paraty.
A data da fundação de Paraty é inconclusa. Alguns historiadores falam que em 1540 já haviam devotos de São Roque no Morro da Vila Velha. Outros dizem que Martins Corrêa de Sá empreendeu uma expedição contra os índios Guaianás em 1597. Para outros em 1600 já haviam paulistas da Capitania de São Vicente. Há quem acredite que foi em 1606 quando os primeiros sesmeiros da Capitania de Itanhahém chegaram para povoar de grosso modo a região pra explorar bens naturais e fixar homens às terras brasileiras.
O que se pode afirmar de fato é que no início do século XVII, além dos índios guaianases, já haviam "paratianos" vivendo por ali.
Em 1640 o núcleo chamado Paratii foi transferido para onde hoje se situa o centro histórico, em “légua e meia de terra entre os rios Paratiguaçu (hoje Perequê-Açu) e Patitiba” doadas por Maria Jácome de Mello. Esta, ao fazer a doação, teria imposto duas condições: que a nova capela fosse feita em devoção a Nossa Senhora dos Remédios e que se guardasse a segurança dos gentios guaianases.
Em 1660, o florescente povoado se rebela exigindo a separação de Angra dos Reis e elevação à categoria de Vila. Surgia em 1667 a Villa de Nossa Senhora dos Remédios de Paratii. Convém salientar que Paraty foi a primeira cidade brasileira a ter sua autonomia política decidida por escolha popular.
Em meados do século XVIII Paraty vai perdendo a importância com a queda da extração e exportação do ouro.
No século XIX a cidade revive, temporariamente, os templos de glória com o ciclo do café. Pinga e derivados da cana também ajuda a economia e Paraty vira sinônimo de pinga.
Em 1870, devido à abertura de um novo caminho – desta feita ferroviário – entre Rio e São Paulo, através do Vale do Paraíba, a antiga trilha de burros pela Serra do Mar perdeu sua função, afetando de forma intensa a atividade econômica de Paraty como um todo.
Com a abolição em 1888 acontece um êxodo. Dos 16 mil habitantes em 1851 restam apenas “600 velhos, mulheres e crianças” no fim do século XIX. A cidade se isola do país.
Enquanto abriam-se estradas pelo resto do país, continuava se chegando a Paraty como na época Colonial: de barco, vindo de Angra dos Reis ou, a partir de 1950, por terra, via Cunha. Este isolamento involuntário foi, paradoxalmente, o que preservou não só a estrutura arquitetônica urbana da cidade como também seus usos e costumes.
Por causa disso hoje Paraty é uma cidade turística recebendo diversos festivais como a maior festa literária do país: a FLIP. O centro histórico, onde o Perequê-Açu desemboca, mantém sua arquitetura colonial. Tem uma vida boêmia agradável com diversos bares e restaurantes, música, arte e famosas pedras que revestem o chão da maioria das ruas. Boa parte delas proibidas para o tráfego de veículos. Sem contar a beleza dos reflexos nas fotografias.

As enchentes do rio inundam o centro histórico de beleza. Algumas vezes até causando danos a cidade como em 2009 quando a cheia danificou a rede de distribuição de água e desalojou cerca de mil pessoas. Porém o rio está onde sempre deveria estar e suas cheias são naturais, inclusive, como já disse aqui em outro relato, as cheias dos rios eram de grande importância pra alimentação dos povos indígenas.
Estive em Paraty algumas vezes como em junho de 2017 pro festival de jazz onde aproveitei as bandeirinhas de festa junina pra registrar a beleza do reflexo dos espelhos d'água. Em 2015 também estive por lá à trabalho e aproveitei pra fotografar o Perequê-Açu e fazer uma releitura de Henry Cartier Bresson.

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